No dia seguinte, logo ao amanhecer, Artur e Moreira já estavam prontos para sair. Estranhamente, o senhor Sanetto permanecia deitado, fato raro para todos que viviam e trabalhavam na mansão.
- Senhor Artur, não seria melhor, antes de sair, o senhor ver se está tudo bem com seu pai? – disse dona Aurélia.
Artur subiu a escadaria e foi até o quarto do pai. Bateu algumas vezes na porta, aguardando resposta, que veio sem que a porta fosse aberta.
- Quem é?
- Sou eu, pai.
- Já está de saída?
- Sim, senhor.
- Então, boa viagem.
- O senhor está bem?
- Sim. Estou apenas me sentindo um pouco cansado. Não se preocupe.
- Não vai trabalhar hoje?
- Sim. Irei mais tarde. Boa viagem. Não se esqueça de ligar quando estiver em Belo Horizonte.
- Sim, senhor – Artur desceu a escadaria da casa visivelmente intrigado com o comportamento de seu pai naquela manhã.
Um vento ameno soprava. O céu nublado e cinza trazia consigo um clima de melancolia. De repente um calafrio percorreu todo o corpo de Artur, e um atemorizante pressentimento lhe sobreveio, como se algo terrível estivesse para ocorrer. Lembrou-se das palavras do senhor Sanetto na noite anterior: “Meu coração me diz que não é boa idéia você ir”.
Artur, como na primeira viagem que fizera para Minas, estava calado e reflexivo. As palavras de seu pai não lhe saiam da mente. Tão ansioso estava por encontrar Amanda que falava a Moreira apenas o essencial.
- Está tudo bem, Artur? – indagou Moreira.
- Sim. Só estou com um pressentimento estranho.
- Está preocupado com seu pai, não é?
- Também. Mas, na verdade, não me saem da mente as palavras que ele disse ontem à noite.
Moreira ficou em silêncio, embora desejasse saber o conteúdo daquela conversa que o rapaz tivera com seu pai. Para alívio de sua curiosidade, Artur prosseguiu:
- Ele não achou essa viagem uma boa idéia. Será mesmo que Amanda sente por mim tudo que diz nas cartas?
- Não pense em coisas ruins. Pense que você vai encontrar a mulher que ama em algumas horas, e que fará uma grande surpresa a ela.
- Você já se apaixonou, Moreira?
- Sim, uma vez. Mas ela quis ficar com outro.
- Ah... lamento.
- Eu também lamentei muito no início. Até que descobri que ela traiu o marido com vários amantes – Moreira sorriu.
- Então não lamento mais – concluiu Artur deixando também escapar um sorriso.
A viagem prosseguiu normalmente, e quase nove horas depois de haverem saído do Rio chegaram a Belo Horizonte. Perderam-se dentro da cidade, mas com a ajuda de um mapa e de transeuntes que lhes davam informações chegaram à Rua dos Imigrantes. Logo viram uma pequena livraria decorada com enfeites natalinos.
- Aquela deve ser a livraria onde ela comprou o cartão. E aquela deve ser a casa – disse Artur apontando para o outro lado da rua.
- Agora é com você, meu amigo. Boa sorte.
- Obrigado. Mas estou meio sem coragem de ir até lá.
- Está com medo de quê?
- Ela pediu que eu não viesse sem avisar.
- Pelo pouco que conheço de mulheres, se ela realmente gosta de você também irá gostar da surpresa. Acredite.
- Para quem se apaixonou apenas uma vez você parece conhecer bastante de mulheres.
- Moreira deu uma grande gargalhada e disse: – Eu já namorei muito. Porém ultimamente estou quieto.
- Você me disse que só havia se apaixonado uma vez.
- Mas para namorar você não precisa estar apaixonado. Na verdade, não tive tantas namoradas, contudo já estive com muitas mulheres. Mas acho melhor falarmos disso depois.
- É melhor ligar para casa antes.
- Do que tem tanto medo? – Moreira já havia percebido que Artur estava inseguro e temeroso.
- Não sei. As palavras do meu pai... Alguns dizem que o coração dos pais não se engana.
- Você terá que descobrir isso sozinho. Se ela o estiver enganando, agora é a hora de descobrir. Pense positivo. No seu lugar, a essa altura eu já a estaria beijando.
Artur saiu do carro e parou em frente à casa. Ficou imóvel por alguns segundos, pensando no que fazer. Então tomou coragem e bateu na porta.
- Quem é? – a voz vinda de dentro da casa parecia a de Amanda.
- Rou, rou, rou. Feliz natal!
Moreira ouviu com espanto Artur imitando o papai Noel, e riu consigo mesmo dentro do carro. Riu mais ainda quando viu Artur desculpando-se com a moça que o atendera. Era a casa errada.
Artur retornou apressado para o carro, sem levantar a cabeça, que, para completar, bateu no teto do veículo quando ele entrava para se assentar.
- Acha engraçado, não é Moreira? Porque não foi com você.
- Eu prometo que não conto a ninguém.
- Não acredito no que acabou de acontecer comigo. Não é essa a casa.
- Deu para perceber – Moreira esforçava-se para segurar a gargalhada. – Não perguntou a moça que o atendeu se ela conhecia Amanda?
- Acho que não conhecia. Ela só disse que não mora nem uma Amanda lá. E depois, a vergonha foi tão grande que só consegui pedir desculpa e desaparecer da frente dela.
- Por que não tenta a casa ao lado?
- Você está se segurando para não fazer nenhuma piada, não é?
- Só estava pensando em dizer que não é uma boa idéia se fingir de papai Noel.
- Achei que poderia ser engraçado, e que ela gostaria da surpresa.
- Engraçado com certeza foi. E não era a esse tipo de surpresa que me referia quando disse que as mulheres gostam de ser surpreendidas.
- Está bem, Moreira. Já entendi. Tento a novamente assim que eu me recuperar dessa.
Alguns minutos mais tarde Artur criou coragem e bateu à porta na casa seguinte. Moreira ficou observando atentamente. Temia que seu amigo sofresse mais alguma decepção. Ao meso tempo, estava muito curioso para saber o desfecho daquela empreitada.
Artur bateu e bateu. Finalmente a porta se abriu. Parecia ser finalmente a casa certa. Artur olhou para o carro, fez um sinal de positivo com o polegar e entrou. A Moreira só restava esperar para ver o que aconteceria.
Ah, tá bom... Eu não aguentei de curiosidade e resolvi ler o capítulo seguinte, daí, você transportou a minha resposta para o próximo... Oh! rsrs...
ResponderExcluirAmei!